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         O que se vê, oito anos depois da germinação, é uma planta em vigoroso crescimento. Muitos a contemplam com admiração e outros tantos a acompanham desde que brotou, mas nem todos conhecem a sua gênese real, que se deu há mais de uma década. A história da Escola de Música de Nova Mutum, no início denominada, Orquestra Jovem de Nova Mutum (OJNM) e de sua mantenedora, a Associação Cultural e Social de Nova Mutum, criadas em junho de 2009, é a história da união de forças que transformou uma comunidade no interior do Mato Grosso e hoje inspira sonhos semelhantes em outras localidades. Mas para isso, uma semente teve que ser plantada. Nestes quase dez anos de dedicação e esforços, alguns felizes encontros e coincidências aconteceram.

         A primeira feliz coincidência aconteceu no ano de 2003, bem distante de Nova Mutum. Apresentados um ao outro por um amigo em comum, o jovem maestro Leandro Carvalho e o empresário Frederico Ribeiro Krakauer – os dois primeiros personagens da história – se encontraram em São Paulo e conversaram sobre a ideia de montar um projeto de música orquestral no Mato Grosso, com caráter social, voltado a crianças e jovens. Mas por que no Mato Grosso? Leandro, que passara anos estudando música fora do País, tinha os pais residentes em Cuiabá. Frederico, por sua vez, é neto de José Aparecido Ribeiro e Hilda Strenger Ribeiro; o avô foi o colonizador de Nova Mutum – município com sede situada 250 quilômetros ao norte da capital matogrossense – e a avó é conhecida como a “sonhadora” que desde a década de 1990 desejava fomentar a música e a arte no jovem município, sempre focada nas crianças.

         Animados e determinados, Leandro e Frederico deram início às articulações ainda naquele ano. Vieram a Nova Mutum para que o maestro conhecesse a cidade e tomaram a primeira decisão. “Vamos começar por Cuiabá, onde se tem maiores condições, e naturalmente avançar para o interior”, lembra Frederico. 

         Enquanto o maestro criava o Projeto Ciranda, (atualmente denominado Instituto Ciranda – Música e Cidadania), na Capital, o empresário pleiteou e conseguiu, junto à extinta Associação dos Empresários da Amazônia, da qual era membro, a doação de quarenta instrumentos musicais para o projeto que seria implantado em Nova Mutum. Criada na década de 1970 por José Aparecido Ribeiro e outros empresários, a Associação dos Empresários da Amazônia estava encerrando suas atividades e destinaria seu patrimônio a causas que dessem continuidade a seus propósitos.

Workshop realizado em 2007

Workshop realizado em 2007

Foi assim que o sonho de Hilda Strenger Ribeiro começou a ganhar vida. Com a semente plantada, outros importantes personagens da história viriam somar forças.

O instrumental de orquestra doado pela Associação dos Empresários da Amazônia estava guardado na Fazenda Mutum, propriedade do Grupo Ribeiro Participações, sob os cuidados do nosso terceiro personagem, o gerente do Grupo Mutum, Luiz Divino da Silva. Em 2006, Luiz Divino contatava empresas e instituições em busca de apoio para o projeto. Enquanto isso, mais dois nomes entravam na história. O músico Edmar de Souza Nascimento, residente em Nova Mutum, estudava regência no Instituto Ciranda através da prefeitura de Nova Mutum quando descobriu que o Grupo Mutum – através da Sra. Hilda – era um dos mantenedores do Ciranda e tinha quarenta instrumentos guardados na fazenda. A informação foi repassada ao seu professor de regência, maestro Murilo Alves, que se interessou de imediato. Os dois músicos foram até a Fazenda Mutum, acompanhados do Sr. Luiz Divino, para conhecer o material.

A Germinação

         Entre março e maio de 2009, enquanto as questões legais e burocráticas necessárias à criação da Associação Cultural e Social de Nova Mutum eram resolvidas, muitas ações práticas já eram adiantadas. Finalmente, no dia 5 de maio, data oficial da criação da entidade, foi lançada a pedra fundamental do projeto, realizada seletiva de alunos e aula inaugural com presença dos pais, em um encontro na sede do Sindicato Rural. O trabalho iniciou já com sessenta e cinco alunos. Aos quarenta instrumentos que estavam guardados na Fazenda Mutum juntaram-se outros dez instrumentos da prefeitura. Os demais alunos utilizavam instrumentos próprios.

         A estrutura física que abrigaria a Orquestra começou a sair do papel também entre março e maio daquele ano. Nesse período concretizou-se o projeto arquitetônico do prédio, a captação de recursos para a construção e o início das obras. Uma parte das instalações já existia. Tudo começou em uma das primeiras casas construídas em Nova Mutum, na década de 1970, pela Colonizadora Mutum. O imóvel, propriedade do Grupo Mutum, foi cedido em comodato à Associação. A nova estrutura física foi construída anexa à antiga, nos fundos do terreno. Na antiga casa de madeira – que passou por uma restauração em 2011, patrocinada pela Construtora Alfer – funciona, atualmente, a recepção e secretaria da Associação.

         A primeira apresentação pública dos alunos foi realizada em outubro, com a música Over The Rainbow, de Harold Arlen, tema do filme O Mágico de Oz (1939). Na ocasião a Associação Cultural e Social de Nova Mutum lançou um projeto de captação de parceiros. A instituição já tinha cinco meses de funcionamento e sua diretoria – composta por vinte e uma pessoas da comunidade – era presidia por Luiz Divino, que desde o início foi o grande articulador de parcerias. Entre os parceiros há os mantenedores: instituições, empresas e pessoas que contribuem financeiramente com o projeto, garantindo os recursos necessários à administração do orçamento. “É importante lembrar que a Orquestra é da sociedade mutuense e está aberta a todos. Somos uma organização muito séria e transparente e nossa única intenção é promover a arte e a educação, distante de interesses políticos”, salienta Luiz Divino.

         Na época o projeto levava o nome Conservatório de Música da Escola de Artes de Nova Mutum. As aulas eram coordenadas pelo maestro Edmar Nascimento (ainda à frente deste trabalho), com suporte do maestro Murilo Alves (coordenador pedagógico da Orquestra) e demais professores do Ciranda, todos profissionais muito bem qualificados. Ainda hoje os professores de Cuiabá vêm periodicamente a Nova Mutum para dar aulas na escola da Orquestra. As aulas sempre foram gratuitas e a grande maioria dos alunos atendidos – preferencialmente aqueles com menos condições financeiras – utiliza instrumentos cedidos pela escola.

         A inauguração do prédio novo ocorreu em dezembro, sem um centavo de dívida. Isso foi possível graças a uma ideia ímpar. As salas foram “vendidas” para pessoas da comunidade e instituições – que pagaram o investimento da obra –, e cada um dos espaços leva o nome do seu respectivo “comprador”, ou benfeitor, ou então alguém da família. Esta contrapartida em forma de reconhecimento e homenagem é um compromisso que a instituição tem com cada um dos benfeitores, enquanto durar o prédio e a Orquestra. As salas levam os nomes Hilda Strenger Ribeiro, Ana Maria Barrasa Plaza de Martinez – Conde, Sala do Povo (construída com recursos da Prefeitura e da Câmara Municipal), Selomar Costa Beber, Alcindo Uggeri, Alaor Antonio Zancanaro, José Carlos Menolli e Luiz Divino. No total são oito salas, tratadas acusticamente e climatizadas, projetadas para abrigar ensaios, aulas teóricas, estudo individual, de naipes, percussão e biblioteca. Já a cobertura do prédio foi patrocinada pela HFC Construtora, empresa que executou a obra completa, como contrapartida pelo serviço contratado.

         Juntamente com o prédio foi inaugurado um palco externo, doado pelo Dr. Paulo Kümmel. Este palco, onde são realizados os concertos oficiais da Orquestra, foi coberto em 2011. Esta melhoria teve como patrocinador as empresas BDR Empreendimentos e Dipagro.

Germinada, a plantinha foi crescendo com saúde. Os primeiros frutos viriam logo.

Primeiros Frutos

         Os três primeiros anos da Orquestra Sinfônica Jovem de Nova Mutum foram muito produtivos, superando em larga escala a expectativa da comunidade envolvida. Com uma média de vinte apresentações e dois concertos oficiais por ano, o grupo de jovens músicos já deixa sua marca em importantes eventos da cidade e da região.

         O I Concerto Oficial foi realizado em dezembro de 2009 e registrado no primeiro DVD da Orquestra. Em junho de 2010 houve o II Concerto Oficial, em comemoração ao primeiro aniversário, completo no dia 5 do mês anterior. Este calendário foi mantido e desde então se faz um concerto oficial em junho, alusivo ao aniversário, e outro em dezembro, com o tema natalino. No terceiro aniversário, em junho de 2012, realizou-se o VI Concerto Oficial, em um evento grandioso que reuniu pela primeira vez, em Mato Grosso, duas orquestras no mesmo palco. Foi o encontro das duas irmãs matogrossenses, a “caçula” Orquestra Sinfônica Jovem de Nova Mutum e a Orquestra Jovem de Mato Grosso, com alguns anos a mais de estrada.

         A Orquestra de Nova Mutum já se apresentou em Cuiabá e municípios matogrossenses como Sorriso, Nova Canaã, Rosário Oeste e Barra do Bugres. Alguns alunos tiveram a oportunidade de se apresentar com a Orquestra Jovem de Mato Grosso em Cáceres e no Rio de Janeiro. Além disso, integrantes da OJNM já tocaram profissionalmente em Cuiabá, com outras orquestras.

Novas Sementes

         Atualmente a escola tem 380 atendimentos com os núcleos de Sopro, Cordas, Percussão, Viola Caipira, Musicalização e Coral. Os mais experientes juntamente com os instrutores, compõem a formação oficial da Orquestra. “A intenção da Associação Cultural e Social de Nova Mutum é, a médio prazo, criar outra formação. Assim, haverá uma orquestra formada por alunos – crianças e jovens – e outra oficial, composta por músicos mais experientes que passaram pela escola”, este era o objetivo em 2012, detalhado pelo então e atual presidente da Associação, Luiz Divino. E o objetivo foi alaçando. Hoje Escola de Música de Nova Mutum, além da OJNM tem também a OINM (Oquestra Infantojuvenil de Nova Mutum).

         Mais de uma década de sonho, oito anos de realidade. Os resultados até aqui foram excelentes, mas o sonho vai além. Para que o trabalho tenha continuidade e a planta continue crescendo com saúde, é preciso continuar regando e adubando o solo. Novas parcerias são buscadas constantemente para renovar as forças. Que a planta se torne uma frondosa árvore e espalhe sementes para que, em todo o Brasil e o mundo, forme-se uma bela floresta de música e ganho social.

Aguarde..